Comunicações:
Nome: Adriana Andrade de Souza (UFJF)
E-mail: driansou@bol.com.br
Título: A fala no silêncio, o silêncio na fala: Eckhart e a linguagem do “sem modo”
Resumo: Quando Eckhart fala em primeira pessoa, ele fala desde a experiência: “O que vos tenho dito é verdadeiro; disso tenho como testemunho a Verdade e dou-vos como penhor a minha alma.” Essa verdade não é outra coisa senão a verdade experimentada pelo próprio Eckhart . Essa forma em primeira pessoa que usa o autor é a linguagem do “sem modo”, desde a verdade, (livre e desprendida). A ausência de um modo nele mesmo absoluto é a possibilidade de todos os modos. A linguagem na sua possibilidade absoluta, é isto o “sem modo”. Nosso objetivo é tentar caracterizar o “espaço” disso que Eckhart nomeia o “sem modo”: atravessar a linguagem até alcançar o silêncio e, ainda ao fazê-lo, atravessar o silêncio ele mesmo para alcançar a linguagem originária, aquela vinda do nada em direção a nada.
Nome: Amanda Viana de Sousa (UFRN)
Email: amandakling@gmail.com
Título: Viver sem-porquê em Mestre Eckhart e Heidegger
Resumo: Gelassenheit, que significa abandono em português, é uma expressão original da Idade Média Alemã e tem como etimologia a palavra gelazenheit ab, que advém do verbo gelazen (deixar). Este termo implica em uma atitude livre e desprendida perante à vida, tanto no que tange ao não apego ao mundo por parte de quem tem essa atitude, quanto em um deixar as coisas em sua autonomia. A Gelassenheit pressupõe o não querer, a anulação do “eu“ e a recusa por causas ou finalidades: a vida não possui base, fundação ou “porquê“. Em vista disso, por que Eckhart, um pensador do medievo, e Heidegger, um filósofo do século XX, pensariam a Gelassenheit? E, a partir da compreensão e da importância dessa palavra para ambos, por que pensarmos em uma possível aproximação entre esses pensadores, visto que, Eckhart possui como preocupação primordial a união Deus-Homem no seio da deidade, e Heidegger, a recolocação do problema do Ser e da refundação da ontologia? Na perspectiva dessas questões, o objetivo dessa comunicação é identificar os possíveis enlaces entre Eckhart e Heidegger a partir da compreensão de ambos sobre a Gelassenheit (abandono) para um “viver sem porquê”.
Nome: Amanda Sayonara Fernandes Prazeres (UFRN)
Email:amanda_fernandesp@hotmail.com
Título: Desprendimento e Vazio - A Recepção de Mestre Eckhart em Nishitani Keiji
Resumo: O trabalho intitulado "Desprendimento e Vazio - A Recepção de Mestre Eckhart em Nishitani Keiji" pretende constituir um diálogo entre a mística ocidental e oriental representada aqui pelos pensadores Nishitani Keiji, expoente da escola de Kyoto, e Mestre Eckhart, pensador alemão do século XIII a partir da questão do Desprendimento inserida pelo pensador medieval e retomada mais tarde por Nishitani em seu projeto filosófico baseado na idéia de vacuidade (Śūnyatā) como fundamento da realidade e afastado da concepção do homem como sujeito do mundo Assim, este trabalho tem como objetivo elucidar de que modo a filosofia de Mestre Eckhart caracterizada por recolher conceitos fundamentais do neoplatonismo é lida na contemporaneidade especificamente pelo pensador japonês Nishitani Keiji delimitando onde essas duas vias de pensamento, aparentemente tão distantes, convergem para instaurar um diálogo entre a filosofia ocidental e oriental o qual nos permite pensar a deidade como nada absoluto e o desprendimento como o caminho para assemelharmo-nos a Deus.
Nome: Camila Jourdan (UERJ)
Email: camilajourdan@hotmail.com / camilajourdan@gmail.com
Título: Mística, necessidade e lógica
Resumo: O objetivo da apresentação é clarificar em que medida a Lógica, no sentido mais comum e ingênuo do termo – isto é, enquanto composta pelas leis fundamentais do raciocínio – pode ser entendida como Mística. Isto parece estranho, pois a mística é normalmente entendida como uma experiência ou vivência de superação das dualidades, onde o pensamento racional colapsa e encontra seu limite; e a lógica é entendida como paradigma de pensamento racional. Apesar da estranheza, como se sabe, a Lógica e a Mística caminharam lado a lado desde os primórdios da história do Pensamento. Pretende-se abordar então em que sentido a Lógica pode ser pensada como se aproximando da Mística, sem alterar o que normalmente se entende por ambas. Trata-se, assim, de responder a questão: o que há na Lógica capaz de provocar certa experiência estética-religiosa de superação das dualidades? Não pretendemos, de modo algum, manter que deva ser assim. A Lógica não precisa ser entendida como mantendo qualquer relação com a Mística, mas, dado que historicamente ela foi – tomamos isto como um fato –, o que pretendemos responder é: como a lógica pôde chegar a ser entendida assim? Ou ainda: o que há na Lógica capaz de aparentemente justificar sua relação com a Mística?
Nome: Carlos Manoel de Hollanda Cavalcanti (UFRJ)
E-mail: carlos.hollanda@gmail.com
Título: Convergências gnósticas e neoplatônicas na Cabala, entre mitologias e sincretismos
Resumo: A Cabala e um de seus principais símbolos, a Árvore da Vida, constituem uma linguagem e uma síntese de várias tradições antigas. Este estudo focaliza-se em algumas das representações visuais e temáticas que receberam influência direta do gnosticismo e do neoplatonismo do século II da era comum. Igualmente, debruça-se sobre sincretismos e reinterpretações renascentistas e contemporâneas, em especial as do século XIX, nas apropriações realizadas pelo sistema de organizações iniciáticas. Entre as referidas representações encontram-se aquelas que relacionam as concepções do céu pré-copernicano como etapas ou graus de ascensão ao divino. Nisso reside a relação entre o céu, a verticalidade do corpo humano e o sistema de correspondências, encontrados nos sete princípios herméticos: “assim como é em cima, é embaixo”.
Nome: Cícero Feitosa Gomes (UFRJ)
Email: cicero.feitosa@hotmail.com
Título: Apolo dionisíaco como linguagem afirmativa existencial no primeiro Nietzsche
Resumo: Discute em linhas gerais o pensamento trágico na primeira fase de Nietzsche. Nesse sentido, este filósofo, retoma a cultura grega antiga e com base nessa fundamentação, elabora sua tese do trágico como possibilidade emergente do impulso criador da arte e essa concebida como música clássica, dessa forma, lançando o humano à esfera de significação existencial, da reinvenção da existência como forma criadoras da vida humana. Com isso, nada melhor do que buscar na cultura grega antiga os dois deuses distintos e indissociáveis, é em Apolo e em Dionísio que o pensador Alemão afirma que a existência humana se configura por meios de símbolos. Esta análise permite abranger que na transcendência por intermédio de Apolo e Dionísio o ser humano em meio à angústia e o absurdo de existir utilizam-se dos impulsos geradores tanto da serenidade, (Apolo), como da embriaguez, (Dionísio) para uma elaboração encantadora da vida. Estas são, em o “Nascimento da Tragédia”, facetas de afirmação existencial, isto é, na medida em que o trágico surge como consciência, ela se estabelece em potência, estabelece-se como inconsciência, em figuração, em símbolo, por isso, as emoções, os sentimentos, sofrimentos são representados a partir desses deuses gregos como impulsos criadores da vida. São em Dionísio que o homem encontra alegria, euforia e êxtase, elementos indispensáveis da criação artística. E em Apolo ele encontra serenidade como possibilidade necessária, a fim de equilibrar-se em uma existencial caracterizada pelo absurdo de existir.
Nome: Cleide M. de Oliveira (UFRJ)
Email: cleideoliva@yahoo.com.br
Título: “Mística e negatividade.”
Resumo: Em diversas tradições religiosas há o entendimento de que a mística possibilitaria uma espécie de saber negativo, na medida em que desvelaria um vazio semântico da linguagem e do mundo. Nessa perspectiva nossas representações desse mesmo mundo produziriam um conhecimento ilusório, sendo a via mística uma disciplina ascética por meio da qual poder-se-ia purgar o pensamento de seus vícios lógico-discursivos e alcançar a ‘verdadeira’ realidade. A comunicação pretende demonstrar que a mística, muito especialmente a mística apofática, na medida em que busca uma experiência trans-conceitual da realidade última, não é ortodoxa ou conservadora e sim um exercício de pensamento extremamente radical em sua proposta de emancipar o humano de todas as balizas conceituais e representações que dão sentido e estabilidade cognitiva a seu mundo.
Nome: Clóvis Salgado Gontijo (Universidade do Chile)
E-mail: clovisalgon@msn.com
Título: Música e noite: registros do inefável.
Resumo: O filósofo francês Vladimir Jankélévitch (1903-1985) estabelece, em seu ensaio Le nocturne (1942), estreita conexão entre a experiência musical e o fenômeno noturno, que lhe permite formular a seguinte afirmação: “pois, enfim, toda a música é noturna”. Obviamente, tal generalização não poderia ser justificada a partir da história da música erudita ocidental, na qual encontramos obras com temáticas, ambientações e títulos referentes tanto à noite quanto a outros momentos do dia. O contato com o pensamento de Jankélévitch permite-nos formular uma hipótese, que pretendemos verificar no trabalho proposto. O adjetivo “noturno”, presente no enunciado citado, parece ser utilizado pelo filósofo como imagem para o inefável, termo recorrente ao léxico místico. Neste caso, estariam presentes dois vínculos de parentesco que merecem ser investigados: um entre a noite e o inefável, outro entre este último e o âmbito musical. A fim de investigá-los, examinaremos, num primeiro momento, como se dá a compreensão do noturno como símbolo da inefabilidade, em certa “mística da escuridão”. Para isso, referir-nos-emos a três autores da mística cristã, Pseudo-Dionísio Areopagita, Tauler e São João da Cruz, que, explícita ou implicitamente, participam da compreensão jankélévitchiana do “noturno”. Num segundo momento, tentaremos esboçar de que modo o conceito de inefável, normalmente aplicado pela mística à dimensão do transcendente, pode ser transferido à imanência da experiência artística por um filósofo contemporâneo. Mostraremos também que a descoberta da arte, e especialmente da música, como “registros do inefável” repete-se em outros pensadores contemporâneos, como Henri Bremond e Theodor Adorno.
Nome: Edson Fernandes de Almeida (UniBennet)
Email: edson.fernando@uol.com.br
Título: A noção de “Deus absconditus” em Martinho Lutero
Resumo: Este trabalho tem como objetivo perscrutar a noção de Deus absconditus em Martinho Lutero, o reformador do século XVI. Segundo Paul Tillich, Lutero sofreu forte influência da teologia mística alemã. Entretanto, o Deus incognoscível de Eckhard nada tem do caráter torturante do Deus absconditus luterano. O Deus de Eckhard não infunde medo e ansiedade no místico. O Deus absconditus também pouco tem a ver com a teologia negativa de Dionísio Areopagita. Para Lutero há uma abscondidade terrivelmente assoladora de Deus , pela qual ele exerce sua ira incompreensível, na qual não se pode mais ouví-lo, menos ainda entendê-lo, mas somente escutá-lo como terrível e opressivo. Eis a face demoníaca de Deus. Lutero emprega o tema do divino ocultamento várias vezes em sua obra. Tal ocultamento aparece sobretudo na forma sub contrariis, isto é, sob os sinais contraditórios. É paradgmática, a esse respeito, a tribulação sofrida pelos patriarcas. A sua vida é o contrário das promessas divinas a eles endereçadas. Neste paradoxo, porém, a fé se atualiza. Dirá Lutero: Deus não pode ser Deus; ele precisa primeiro tornar-se um diabo. Um demônio, por exemplo, como aquele que lutou com Jacó no vau do Jaboque até que o dia raiasse. Tal noção da abscondidade divina, se por um lado afasta Lutero de Dionisio e Eckhart, por outro o aproxima da mística beguina, do século XIII, na qual a experiência do “afastamento de Deus” é elemento central.
Nome: Fábio José Barbosa Correia (FADE-PE)
Email: fabiocorreia@unicap.br
Título: A Transição do tempo para a eternidade como um pressuposto místico em Agostinho de Hipona
Resumo: O problema do tempo tem sido motivo de intensos debates em diversas épocas. Como sabemos, essa questão traz inúmeras outras a serem resolvidas. Uma delas é a de tentar sincronizar o tempo geral das Matemáticas e das Ciências em relação ao tempo interno de cada indivíduo. Contudo, um dos maiores e mais polêmicos problemas trazidos pela reflexão acerca do tempo é o que trata da transição de um tempo vivenciado em vida para o além-vida-corpo: a eternidade. As diversas abordagens da eternidade parecem nos dar a impressão que estamos falando não de uma, mais de várias eternidades, isto é, de vários sentidos em que pode ser aplicada ou examinada. Dentre essas variadas abordagens, a elaborada por Agostinho de Hipona é digna de destaque. Agostinho foi conduzido a analisar a questão do tempo e, conseqüentemente, da eternidade, a partir de controvérsias com os maniqueus e com Pelágio, além de outras influências. Será nossa intenção abordar essas disputas com o objetivo de identificar o entendimento e esperança de Agostinho acerca dessa transição - que para ele também é mística - do tempo para a eternidade, sendo ela, em última análise, a transição da vida física para uma vida espiritual mias pujante; o encontro final da criatura com a divindade.
Nome: Gabriel Martino (Universidad de Buenos Aires)
Email: gabriel.filosofia@hotmail.com
Título: Mística y exégesis en la filosofía de Plotino.
Resumo: La filosofía de Plotino posee una gran riqueza y variedad en sus aspectos constitutivos, dos de los cuales son la mística y la exégesis. En cuanto a la mística, los intérpretes varían desde posiciones que niegan la existencia de una “mística” plotiniana mientras que otros lo consideran el “padre de la mística occidental”.[1] En cuanto a la exégesis, todos los intérpretes reconocen, aunque valorándolo e interpretándolo de modos diferentes,[2] el trabajo exegético que Plotino realiza con sus predecesores, en especial con Platón y Aristóteles.
Ahora bien, pocos autores han investigado sobre la relación entre estos dos aspectos en la filosofía de Plotino. Uno de los autores que ha puesto en relación estos elementos es Szlezák (1979, pag. 9) quien no sólo acepta la experiencia mística como un elemento constitutivo y fundamental de la filosofía plotiniana sino que, además, entiende que Plotino habría subordinado la actividad exegética a la experiencia mística puesto que la primera se llevaría a cabo en vistas de la segunda. Ahora bien, este modo de entender la filosofía de Plotino constituye el punto de partida del estudio de Szlezák y, en consecuencia, el autor no da las razones que lo llevaron a tal interpretación.
En el presente trabajo, intentaremos defender una interpretación semejante a la del autor citado. Con esta finalidad expondremos, en primer lugar, las razones que nos llevan a encontrar una “mística” en Plotino y, en segundo lugar, recurriremos a los autotestimonios que encontramos en las Enéadas y a la Vida de Plotino de Porfirio para abonar la interpretación según la cual la “mística” plotiniana es el auténtico impulso de su filosofía y la fuente de vitalidad de su actividad exegética.
Nome: Gabriela Bal (FASM)
Email: bal@uol.com.br
Título: A linguagem mística de Plotino e Damáscio e a teurgia de Jâmblico.
Resumo:Neste paper pretendemos apresentar o resultado de nossa pesquisa de Doutorado realizada junto ao Programa de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo com o título: “Em busca do “Não-lugar”: A linguagem mística de Plotino, Jâmblico e Damáscio à luz do Parmênides de Platão” (2010). Buscaremos reconhecer os fundamentos da linguagem mística neoplatônica nos conceitos utilizados tanto pela linguagem catafática como pela apofática, até ao seu limiar, a linguagem negativa, a partir da qual se abrem duas novas perspectivas: 1) a primeira relativa à linguagem da transcendência contemplada através do conceito de inefável e que, associada à aporia, em última instância culmina no esgotamento total da linguagem; e, 2) os seus desdobramentos no conceito de teurgia proposto por Jâmblico. Ou seja, a teurgia entendida não em oposição à linguagem e à filosofia, mas ao contrário, como o seu complemento, enquanto resposta à aporia da qual o intelecto busca se livrar em vão. A teurgia, na perspectiva de Jâmblico, não diz respeito a uma manifestação irracional ou primitiva, devendo mesmo ser considerada como a síntese de todos os esforços no re-conhecimento da realidade inefável à qual o conhecimento do Intelecto conduz. Neste sentido, a teurgia assim contemplada, abre uma nova perspectiva no estudo da mística.
Nome: Gabriela F. Müller (Universidad de Buenos Aires)
E-mail: gafermu@gmail.com
Título: Mística y Lenguaje en Numenio de Apamea
Resumo: Comúnmente considerado un representante del “platonismo medio” o del “neopitagorismo” floreciente en los primeros siglos de nuestra era, Numenio de Apamea es sin duda una figura relevante para quienes estudian la tradición platónica anterior a Plotino y buscan indagar las fuentes del pensamiento neoplatónico. En este trabajo me ocuparé de rastrear los elementos vinculados a la noción de mística y su relación con el problema del lenguaje en los escasos fragmentos y testimonios que han llegado hasta nosotros. Principalmente centraré mi análisis en el fragmento 2 (ed. Des Places) donde aparece una descripción del camino de ascenso hacia el Bien que resalta los atributos de unicidad y negatividad del primer principio y, como contrapartida, la necesidad de apartarse de la multiplicidad sensible para llegar hasta Él. Dedicaré especial atención a la frase ὁμιλῆσαι τῷ ἀγαθῷ μόνῳ μόνον que aparece en este fragmento y de la cual hallamos múltiples ecos en los escritos de Plotino. Sin embargo, la alusión que se hace en este fragmento al Bien debe ser complementada con otros fragmentos en donde el Bien es considerado un primer dios que se ubica por sobre un segundo dios, que es el demiurgo. En este sentido, en el fragmento 12 Numenio establece una distinción entre un discurso sobre el primer dios y un discurso sobre el segundo dios que nos pone frente al problema del lenguaje en relación con esta jerarquía divina. Mediante el estudio de estos pasajes intentaré reconstruir, entonces, el pensamiento numeniano sobre esta problemática poniendo de manifiesto sobre todo los elementos que serán retomados y resignificados en el neoplatonismo posterior.
Nome:Hugo Bezerra Tiburtino (USP)
Email:hugotiburtino@usp.br
Título: Amônio, Filopono e a origem da instrumentalidade da lógica
Resumo: Quando se batiza a lógica de ?órganon?, está-se claramente dizendo que a lógica não é um conhecimento, uma filosofia, mas, como a tradução deixa claro, um ?instrumento?, por assim dizer um método, que nos ensina a utilizar o discurso científico para que, só posteriormente, possamos filosofar, produzir conhecimento. É com esse nome que se batizou o conjunto das obras lógicas de Aristóteles. Esse título nasceu de uma longa tradição que não podemos, porém, remontar ao próprio Estagirita. As mais antigas notícias sobre esse assunto vêm de Alexandre de Afrodisia, que, por sua vez, remete a velhas discussões com os estoicos. Sabemos que, para os estoicos, cuja filosofia é totalmente sistemática e orgânica, a lógica não poderia ser um instrumento, mas apenas um ramo do conhecimento, tão objetiva quanto a física e a ética. Por conseguinte, os discípulos no Liceu teriam decidido que a lógica é um instrumento apenas para se contrapor aos estóicos, sem nenhuma base no próprio fundador do Liceu. Seria, então, apenas por uma desavença que se iniciou essa longa tradição? Ou há alguma razão maior para decidirem por isso? Refaçamos a pergunta: em que momento e por que começou-se a caracterizar a lógica como órganon? Essa comunicação apresentará como os neoplatônicos Amônio e seu discípulo João Filopono se posicionam diante dessa questão. Ao contrário do senso comum, que responderia que essa tese nasceu do embate entre os estoicos e os aristotélicos, ambos remontam a discussão até Platão, o que abriria uma brecha para se afirmar que o próprio Aristóteles teria se pronunciado a favor da instrumentalidade da lógica. Eles, no entanto, nunca dizem a opinião do próprio Aristóteles, apenas a dos aristotélicos. Mesmo assim, buscaremos provar que, para eles, Aristóteles compartilhava da tese de Platão, a saber, que a lógica é tanto instrumento quanto conhecimento.
Nome: Ideusa Celestino Lopes (UFPB, UFPE e UFRN)
Email: ideusalopes@yahoo.com.br
Título: Giordano Bruno: a infinitude do universo a partir da infinitude divina
Resumo: Giordano Bruno (1548-1600) na obra sobre o infinito, o universo e os mundos (1484) apresenta um debate entre a finitude e a infinitude do mundo. Entre os aristotélicos que defendem a finitude, e a posição de Bruno que defende a tese da infinitude. Bruno expõe a discussão a partir de dois referencias: na primeira parte do diálogo a discussão versará em torno do âmbito da filosofia natural, indagando sobre onde está o mundo, a sua conformação, distinção entre mundo e universo. Num segundo momento, uma abordagem do ponto vista teológico. Para Bruno, quando os aristotélicos defendem o universo finito e negam a possibilidade de inumeráveis mundos estão limitando o ilimitado. Não é possível aceitar a infinitude de Deus e delimitar a sua capacidade de criação. Procura, então, demonstrar a infinitude do universo a partir da infinitude divina. A própria existência do nosso mundo, criado por esse ser infinito, nos permite, falar de inumeráveis mundos, pois não faz sentido que o infinito crie o finito, limitado. Bruno indaga como a divindade se conformaria em criar o finito. O divino ganha nova dimensão no pensamento bruniano, ao invés de ser pensada como estando fora do mundo, é pensada por Bruno como estando no mundo.
Nome: Jimmy Sudario Cabral (PUC –Rio / Université de Strasbourg – França)
Email: Sudarioc@hotmail.com
Título: A especificidade mística do judaismo-cristão de Paulo e seus desdobramentos na mistica moderna
Resumo: Uma das expressões mais fortes da mística judaico-cristâ, como topoi de superação da natureza e expressão de um certo tensionamento judaico-cristão do pensamento grego e pagão, encontra-se na mistica revolucionaria do apostolo Paulo, que, de certa forma, aparece como fundador – ao menos como elaborador – dessa tensão antinômica do pensamento judaico-cristão com a natureza reconciliada da antiguidade grega e romana. O nucleo subversivo da experiência cristä originaria é – pode ser lido como – um « evenement mystique » que inaugura uma ruptura com a lei, que é, nos quadros do judaismo do primeiro século – apropriando-me dos conceitos de M. de Certeau – uma ruptura « entre le lieu et le sens ». O « evenement mystique » , como encontramos em Paulo, é a experência de desconstrução dos espaços sacros que arquitetaram a ontologia grega, promovendo uma saida da perenidade da natureza para o espaço da contigência de um corpo e de uma palavra mistica. Essa différence mistica compreende-se como atestação da forte oposição entre um « Dasein grego » e um « Dasein Judaico » e proclama a ruptura definitiva dos possiveis laços que poderiam ser feitos entre Jerusalem e Atenas. Essa herança mistica « anarco-nihiliste » é o fundamento de toda tensão antinomica e escatologica do pensamento mistico moderno, revelando, como escreveu G. Agambem, uma espécie de « rendez-vous secret entre les générations passées et la nôtre, entre les écritures du passé et le présent »
Nome: Jorge Augusto da Silva Santos (UFES)
Email: benedictus@oi.com.br
Título: Mystikē hénōsis: tradição, investigação e iniciação. A propósito de uma passagem da obra Dos Nomes Divinos (II,9, 648 A-B) de Dionísio Pseudo-Areopagita.
Resumo: A comunicação comenta uma breve passagem da obra Dos Nomes Divinos, onde o Dionísio Pseudo-Areopagita utiliza a expressão mystikē hénōsis, única em todo o Corpus dionysiacum, para explicitar que a união mística acontece no final de um conhecimento e uma experiência das coisas divinas segundo três vias: a tradição, a investigação e a iniciação. No texto encontramos não somente elementos gramaticais e sintáticos específicos que configuram o estilo dionisiano – dotando a sua linguagem de uma intencionalidade comunicativa expressamente buscada –, mas também as ressonâncias neoplatônicas como, por exemplo, o emprego aqui do termo sympátheia, que aparece tanto Jâmblico como em Plotino.
Nome: José González Ríos (Universidad de Buenos Aires)
Email: josegonzalezrios@gmail.com ; h.gonzalezrios@conicet.gov.ar
Título: Mística y lenguaje en la propuesta cusana del “possest”
Resumo:Nicolás de Cusa (1401-1464) compone su triálogo De possest presumiblemente en febrero de 1460 en el castillo de Andraz. Allí trama el diálogo entre tres personajes históricos, vinculados entre sí (el mismo Cardenal, Bernardo de Kraiburg y Juan Andrea dei Bussi), con la intención de especular en torno del pasaje de Rom. I, 20 a través de una expresión inusitada: el nombre enigmático “possest”. La fuerza expresiva o simbólica del “possest”, como buscaremos mostrar, reside en que pone de manifiesto, como en un espejo y en un enigma, a través de su significado simple [simplex significatus] lo visible, lo múltiple, lo temporal pero no de modo visible, múltiple o temporal, esto es, no según sus cualidades extrínsecas, sino según su simple modo invisible, esto es, como no-múltiple, no-temporal, no-corruptible, no-material, no-compuesto, no-numerable, etc.. De aquí que el principio simple o concepto absoluto, a la luz del “possest”, pueda ser concebido como la invisibilidad del mundo visible, ya que si el concepto absoluto se define a sí mismo y a todo, lo hace de modo inteligible e invisible. Por eso, quien busca ver el principio en lo principiado, lo invisible en lo visible, tal como reza el pasaje paulino, puede hacerlo por medio del “possest”, toda vez que a través de él la mirada del que especula asciende de lo visible a lo invisible, como por medio de una lente. De este modo, aquél puede leer en el libro del mundo, que no es otro que la manifestación visible o comunicable de lo divino, y comprender de modo incomprensible el simple e invisible sentido escondido en él. El “possest” deviene en una formulación que en el lenguaje muestra el límite del lenguaje. Exhibe el esfuerzo por llevar el lenguaje a su límite, para a través de él poner de manifiesto la índole de lo absoluto. De aquí que el “possest” pueda ser concebido -tal como lo ha sostenido Werner Beierwaltes- como el momento intelectual de la visión mística.
Nome: José María Nieva (Universidad Nacional de Tucumán/Universidad del Norte Santo Tomás de Aquino)
E-mail: jose_marianieva@hotmail.com
Título: No-Ser y mística en Proclo
Resumo: Dentro de la gran tradición neoplatónica Plotino es reconocido casi de una manera unánime como el arquetipo de la experiencia mística.
Decimos casi de una manera unánime ya que, según Blumenthal, «Plotino, para detrimento de los estudios neoplatónicos, ha sido clasificado como un místico». Todavía más, de un modo tajante el erudito inglés señala que «la unión mística no es de gran importancia en la filosofía de Plotino» .
No obstante, no se puede dejar de reconocer que la hénosis posee en el pensamiento del filósofo de Licopolis una relevancia tal que no sería posible comprender su filosofía sin dar cuenta de que «cuando el alma está en el estado que es conforme a su naturaleza, queriendo entonces unirse a Dios, ama con un amor noble, como una doncella puede sentirlo por un noble padre» (Enéada VI 9,9, 34).
Frente a ello se ha señalado que en Proclo cabe hablar solamente de un teórico de la mística. En efecto, la hénosis «ha cesado de ser una experiencia viviente o incluso un ideal viviente y ha devenido una fórmula piadosa en los labios de profesores» .
Teniendo como punto de referencia el Comentario al Parménides de Platón, el presente trabajo se propone indagar la validez de la mencionada dicotomía, es decir, reconsiderar hasta qué punto es lícito negar en Proclo una experiencia mística o espiritual. Ello implicará a su vez re-examinar algunos tópicos claves del pensamiento del Licio.
Nome: José Nicolao Julião (UFRRJ)
Email: jnjnicolao@gmail.com
Título: Filosofia da História Teológica: Segundo Santo Agostinho
Resumo: O objetivo desta comunicação é o de apresentar, a partir da reflexão agostiniana sobre a história, como se constituiu um modelo teológico da filosofia da história que tem a Providência divina como princípio de determinação da destinação humana. Para o proposto, temos como referência a obra A Cidade de Deus, sobretudo, os livros de XI a XX, sobre os quais enfatizaremos o caráter teológico da história movida pela Providência, apresentando a seguinte estratégia argumentativa: 1°, apresentar a distinção estabelecida por Santo Agostinho, na origem, entre duas cidades, a de Deus e a terrena; 2°, levar em conta também a analise que ele faz do conceito de tempo apresentada no livro XI das Confissões, para melhor, compreendermos a idéia de tempo linear situada em A Cidade de Deus. 3º, depois de apresentada a distinção entre as duas cidades e estabelecida a forma de tempo linear, ainda, será apresentado o desenvolvimento dos temas anteriores vinculado à história dos patriarcas bíblicos, de Adão a Cristo e deste ao juízo final.
Nome: José Teixeira Neto (UERN)
E-mail: josteix@hotmail.com
Título: De filiatione Dei: a “mística do logos” e fundamento da filosofia da linguagem de Nicolau de Cusa.
Resumo: Partimos da afirmação de K.-O. Apel, repetida por João Maria André (1986, p. 400) de que “é na ‘mística’ do logos’ e na teologia negativa do Pseudo-Dionísio que, de modo determinante, Nicolau de Cusa irá beber os traços fundamentais da sua filosofia da linguagem”. Levando em consideração as restrições de tempo da comunicação, propomos refletir, partindo do De filiatione Dei (1450), sobre a relação fundamental e constitutiva entre o verbo mental humano e o Verbo ou Logos eterno. A importância desse texto, no âmbito do problema da linguagem em Nicolau de Cusa, é reconhecida por Casarella (1992, p. 209) justamente por sua inflexão cristológica em relação aos primeiros sermões, pois em oposição à reflexão intra-trinitária dos sermões, a imagem humanamente visível de Cristo torna-se o espelho da linguagem, ou seja, em Cristo vemos de modo perfeito o que pode ser expresso por meio da linguagem. O texto cusano é uma meditação sobre Jo, I, 12: “Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus: aos que creem em seu nome”. Para Santinello (1980, p. 17) são dois os problemas discutidos por Nicolau. Em primeiro lugar, como se pode pensar a união dos homens com Deus na outra vida e, em segundo lugar, qual o caminho que o homem deve percorrer nesta vida para alcançar a filiação na outra. Interessa-nos principalmente a meditação sobre a segunda questão e os exemplos aduzidos pelo Cusano para explicitar de que modo colhemos a unidade divina intelectualmente, pois serão nestes exemplos ou enigmas que o autor pensará a relação constitutiva entre o verbo mental humano e o verbo mental inefável.
Nome: Josias da Costa Júnior (Bennet STBN)
Email: josiasdacosta@gmail.com
Título: Mística e poesia: considerações a partir da obra de Adélia Prado.
Resumo: Nesta comunicação trataremos de um tema que é, a um só tempo, apaixonante e provocante. É assim que encaramos o desafio de realizar uma pesquisa que une experiência estética e experiência mística, que se torna ainda mais interessante quando tomamos a obra da poeta mineira Adélia Prado, para expormos as interseções entre poesia e mística. A partir do universo ficcional por ela construído, podemos destacar que há uma relação intrínseca entre poesia e mística, pois no universo ficcional construído por ela todas as dimensões da existência humana são perpassadas pelo sagrado. Esse é o tom dado pela autora, que surpreendeu a muitos quando surgiu com sua poética religiosa, falando de uma experiência mística que se abre para o mistério revelado através do corpo. Estamos certos de que a pesquisa que aproxima poesia e mística significa a possibilidade de ampliar a visão reducionista do ser humano, à medida que seja superada no mundo acadêmico a herança positivista, que impediu, quase completamente, a possibilidade de abertura à transcendência e ao mistério, pois para Adélia Prado a poesia é como um portal que possibilita o acesso ao sagrado, à redenção, à transcendência. Trata-se de um modo de fazer poesia que usa uma forma singular de linguagem, que não se divorcia do cotidiano e, ao mesmo tempo, é inseparável do sagrado. Com isso, os acontecimentos cotidianos são encantados pelo toque da poesia. A partir do toque poético tudo se harmoniza e se integra, promovendo o salto radical para transcender a realidade e instaurar a nova realidade mística. Nossa abordagem recolherá contribuições da teoria literária, filosofia, teologia, em busca do desafio de considerar mística e poesia, a partir da obra de Adélia Prado como matéria de reflexão.
Nome: Josilene Simões Carvalho Bezerra (Instituto Federal de Sergipe)
Email: Josilenecarvalho@hotmail.com
Título: A relação entre mística e poesia no Cântico Espiritual de San Juan de la Cruz
Resumo: Este trabalho pretende expor a relação entre mística e poesia no Cântico Espiritual de San Juan de la Cruz visando apresentar uma experiência pessoal de Deus e sua relação com um tipo particular de linguagem: a poética. Como sabemos a poesia está a serviço da vivência subjetiva do autor, mas, nem por isso, deixa de ser expressão lírica de um estilo presente não apenas na tradição bíblica (sagrada) mas, também, na poesia cortesã renascentista (profana).
Nome: Julieta Cardigni (Universidad de Buenos Aires)
Email: jcardigni@yahoo.es
Título: Macrobio y Calcidio sobre un pasaje del Timeo: lecturas tardoantiguas de Platón.
Resumo: El género del comentario- escolar o filosófico- se caracteriza entre otras cosas por constituir una suerte de traducción diacrónica o cultural de un texto (STEINER 1997), al encargarse de actualizar y dar vida a los valores culturales de un pasado que resulta incomprensible u oscuro. Por lo tanto, está conformado en una tensión que le es constitutiva entre pedagogía y erudición, puesto que su carácter es eminentemente didáctico pero al mismo tiempo debe resolver y actualizar cuestiones relacionadas con áreas específicas del saber. (SLUITER 1999; GOULET- CAZÉ 2000)
Tanto Calcidio como Macrobio, que escribieron sus Comentarios entre fines del siglo IV y la primera mitad del siglo V respectivamente (WASZKINK 1962; CAMERON 1966), muestran en sus escritos un interés filosófico por Platón y la tradición platónica. La obra de Calcidio constituye la más completa sistematización de la filosofía platónica accesible a los hombres medievales, además de la única traducción del Timeo que circuló en el Medioevo (WASZINK 1962); mientras que los Commentarii in Somnium Scipionis de Macrobio fueron en la Edad Media un manual de las Artes Liberales del quadrivium (ARMISEN- MARCHETTI 2001) y buscan, por medio del comentario a Cicerón, sistematizar un conjunto de saberes tradicionales para hacer emerger un modelo nuevo de romanitas en el conflictivo siglo V.
El presente trabajo estudia y analiza las similitudes y diferencias de lectura presentes en los pasajes de Calcidio (1. 40 a 1. 45) y Macrobio (2. 1. 1 a 2. 2. 24) referidos a la música de las esferas y a la creación del alma del mundo de acuerdo con proporciones matemáticas divinas, bajo el supuesto de que si bien ambos autores recurren a la auctoritas del Timeo, parten de objetivos diversos, realizan operaciones exegéticas distintas, y obtienen, por consiguiente, resultados diferentes.
Nome: Karine Krewer (UFMT)
Título: O Princípio de Não- Contradição e sua relação com a temporalidade linear: a expansão da linguagem mediante o postulado do tempo “espiralado” de Bergson.
Resumo: O matemático e filósofo Bernard Bolzano, do século XIX, define o princípio de não-contradição como a tese que interdita que, a um mesmo objeto, duas propriedades contraditórias possam ser atribuídas em um mesmo instante de tempo. Na definição bolzaniana, está implícita uma compreensão do tempo como uma linha reta que se estende infinitamente tanto para frente (o futuro), como para trás (o passado), passível de ser divisível até a exaustão; o instante, na qualidade de ponto geométrico, é o paroxismo desta divisão.
Dentro deste quadro referencial, admitir que haja situações que possam se expressas na linguagem como contraditórias é inconcebível, por força da própria estrutura temporal; o tempo “linear” impede que as contradições apareçam como naturais ou viáveis. Mas o que dizer de contextos em que o tempo se mostra como não-linear ou não passível de uma representação retilínea? Nestes contextos, como é o caso do tempo “duração” de Bergson, melhor representado visualmente sob o aspecto de uma “espiral”, o princípio de não contradição, como formulado por Bolzano, sofre atenuações, revelando a possibilidade de que contradições ocorram de fato. Com isto, a linguagem, que sob a organização da temporalidade linear se prende estritamente ao supracitado princípio, se liberta, de certa maneira, das estruturas lógicas usuais e permite que, nela, se elabore a contradição como algo normal ou possível, aumentando expressivamente o poder de qualquer linguagem que se destine a descrever tais domínios de temporalidade bergsoniana, isto é, não-linear.
Nome: Lenice de Jesus Rosendo (PUC-SP)
E-mail: lenicerosendo@hotmail.com
Título: Mística Sacerdotal Umbandista – UFFAD – Templo União, Força, Fé e Amor a Deus - um estudo de caso.
Resumo: Esse texto tem como objetivo, apresentar, em linhas gerais, um resumo de nosso projeto de pesquisa em andamento, intitulado A mística sacerdotal umbandista. Neste trabalho pretendemos investigar as dimensões das experiências religiosas umbandista, a partir das especificidades das vivências do sacerdócio umbandista. Analisaremos o contexto das práticas religiosas inerentes a tradição e filiação filo-religiosa da UFFAD – União, Força, Fé e Amor a Deus, que elegemos como o lócus para um estudo de caso. Faremos uma incursão histórica do universo no qual se instituiu referida instituição e verificaremos o estatuto de sua mística sacerdotal umbandista; seu alcance e seus limites no processo de união com a Realidade Última. Analisaremos a formação e constituição histórica do templo UFFAD, elucidando suas tradições religiosas de origem e filosofia de trabalho e organização adotada nas práticas ritualísticas e as idéias subjacentes a essas práticas. Verificaremos o estatuto e lugar das expressões que entendemos como mística umbandista assim como a explicitação dos motivos pelos quais elegemos como objeto de estudo, a mística sacerdotal umbandista e o que entendemos por esta denominação. Consideraremos as implicações dessa expressão mística no contexto das tradições afro-brasileiras. Apresentaremos nossa hipótese de que a mística sacerdotal umbandista, com sua linguagem tântrica, mântrica e yântrica, é a nosso ver, uma forma genuína e sui gêneris de vivenciar a transcendência na imanência. Essa mística adquire em suas expressões míticas e rituais, um caráter sacral de tal magnitude que poderíamos identificá-la como se fosse o próprio modus operandis do Ser. Nesse sentido, ela se constitui na própria natureza naturante e naturada. E nesse sentido , se reveste de uma natureza ôntica. Averiguaremos a consistência ou não de nossas hipóteses, à luz das contribuições das Ciências das Religiões e contribuirmos para o debate acerca dos fenômenos, das experiências e da mística religiosa.
Nome: Leonardo Ferreira Kaltner (UFF)
E-mail: leonardokaltner@ig.com.br
Título: O “De Beata Virgine Dei Matre Maria” de Anchieta: o poema da conversão dos Tamoios.
Resumo: José de Anchieta (1534-1597) legou-nos uma extensa obra em latim clássico no Brasil quinhentista. Dentre estas, destaca-se o De Beata Virgine Dei Matre Maria, um longo poema elegíaco dedicado à Virgem Maria, escrito inteiramente em dísticos elegíacos latinos, sincretizando-se com a estética da poética clássica de Ovídio, poeta da Roma Clássica, cultor deste padrão métrico. Segundo a tradição, este poema de Anchieta foi escrito inicialmente nas areias da praia de Iperoig, na atual Ubatuba, na mesma época em que o autor negociava a paz com a Confederação dos Tamoios. Vamos debater algumas possibilidades de análise desta magnífica obra, tendo em vista o eixo “Mística e Linguagem”, a partir da relação do poema com a política de Conversão do Gentio do Brasil colonial, em seu contexto político-ideológico.
Nome: Luciana Gabriela Soares Santoprete (CNRS)
Email: luciana.soares@tiscali.it
Título: A identificação do tratado Sobre as Idéias de Plotino citado por Longino : Tratado 5 ou Tratado 32?
Resumo: Longino escreveu, por volta de 264-265, uma obra polêmica contra o tratado Sobre as Idéias de Plotino. Nosso objetivo será mostrar, à partir de uma análise dos primeiros capítulos do Tratado 32 e do contexto polêmico no qual ele foi redigido, que o tratado Sobre as Idéias visado por Longino corresponde ao Tratado 32 e contradizer assim a opinião de P. Henry et H.-R. Schwyzer que o identificam ao Tratado 5.
Nome: Luís Manuel Malta de Alves Louceiro (PUC-SP)
E-mail: louceiro@uol.com.br
Título: What did Plotinus seek in India?
Resumo: We know that Plotinus (c.205–c.270) took part in an expedition to Persia – against the Sassanid Empire – led by Roman Emperor Gordian III (224-c.244) with the aim of reaching India. With the death of the latter, Plotinus, 39, returned to Alexandria – where he met his teacher (since 232) Ammonius Saccas (175-242) - and, the following year, he settled in Rome. What did Plotinus seek in India? India that no longer lived the splendor of the Maurya Era (322-185 BCE) – founded by Chandragupta Maurya (c.340-c.320 BCE), after the invasion of Alexander (356-323 BCE), due to the sagacity of his “gray-eminence”, Kautilya, professor at the University of Taxila, the Hindu Machiavelli (see his “Arthashastra”) -, nor yet the Golden Era of the Gupta Dynasty (320-550), the one of astronomer and mathematician Āryabhaṭa (476-550 CE), with his “heliocentric” and “zero” concepts. Our goal in this Communication is to compare the core of Plotinus’ mysticism – through his language, in the Enneads – with the core of Indian mysticism – at the time of Gordiano’s expedition (244) -, when its main texts were already codified (in written language): (1) the Upanishads (transmitted orally after IX century BCE); (2) the Jain Agamas (end of the IV and beginning of the III century BCE); (3) the Buddhist Pali Canon [29 BCE in Ceylon, especially the Abhidammapiṭaka]; (4) Kapila’s Sāṃkhyakārikā (II century CE); (5) the Yoga-sūtras by Patañjali (II century BCE); and, (6) the Bhagavad Gῑta (which John Brockington, in The Sanskrit Epics, Leiden, 1998, places in the I century BCE). The core we referred to above would be that which Charles S. Peirce (1839-1914), object of our Doctor’s Dissertation, called “diagram” (a heritage of Kant’s “scheme”), pregnant with possibilities (“abduction”, an Aristotelian inheritance) so as to come to (new) (mathematical) synthetic judgments (and go beyond them).
Nome: Luiz Fernando Fontes Teixeira (UFRN)
E-mail: luizfft@hotmail.com
Título: O Neoplatonismo da Escola de Quioto.
Resumo: O trabalho pretende evidenciar de maneira propedêutica os elementos responsáveis por configurarem uma recepção do Neoplatonismo na Escola de Filosofia de Quioto. Para tal, evidencia-se em primeiro lugar a chamada “Lógica Tópica do Nada” do precursor e fundador da Escola, Kitaro Nishida. Em segundo lugar, mostrando como a proposta de uma filosofia “metanoética”, apresentada por Hajime Tanabe, promove um movimento de continuidade em relação à recepção de Nishida. Por fim, após estabelecer a importância do pensar continuado de ambos os pensadores para a arquitetônica da Escola de Quioto, busca-se tornar clara a reciprocidade entre a Tradição Neoplatônica e a filosofia japonesa contemporânea.
Nome: Marcello Henrique Medeiros de Paiva (UFRN)
Email: marcellofilosofia@gmail.com
Título: Plotino: Estética e Mística
Resumo: Com o intuito de discorrer a respeito de uma estética da ascensão no pensamento de Plotino (204 d.C/ 270), pretende-se investigar as idéias de contemplação e beleza no pensamento plotiniano e a relação com a experiência mística na obra de arte.
O trabalho expõe a idéia da contemplação como uma união mística, uma experiência do mirar, onde o objeto e o ato de contemplar se confundem. Etimologicamente pelo conceito de mística Cícero Cunha Bezerra nos diz: “que é normalmente traduzido por ‘mistério’ (mystérion), designa o ato de fechar os olhos e a boca.” Não a tomemos como uma atitude do ficar quieto, mas sim a compreendamos como uma experiência do aguardar em si mesmo, numa experiência que se dá no interior do próprio homem, ou seja, não se trata aqui de um pensamento discursivo, determinado pela razão, mas sim, um exercício que requer uma preparação da alma que em um estado de nostalgia a partir da contemplação deseja retornar ao fim último.
A mística pensada por Plotino é antes um meio para se chegar aonde o homem não alcança com a palavra, este que não dá conta de exprimir um pensamento que expresse o Uno. O caminho da mística é uma senda de silêncio para se chegar, pensado a partir de uma estética em Plotino, através da contemplação da beleza ao inefável.
Nome: Maria José Caldeira do Amaral (COGEAE/PUC/SP)
E-mail: zezeamaral@uol.com.br
Título: A equalização de Eros e de Ágape na Linguagem da Mística Cristã Feminina Medieval.
Resumo: A linguagem nos textos místicos medievais cristãos femininos, principalmente naqueles escritos em língua vernacular, dispõe ao leitor uma dinâmica paradoxal entre os sentidos do que conhecemos como eros e ágape para falar de amor, de Deus e da alma humana. Neste ensaio estaremos desenvolvendo esse esforço íntimo, sensual e espiritual, instalado na perspectiva da linguagem positiva – catafática e negativa – apofática nos textos de Marguerite Porrete e Mechthild de Magdeburg. Para isso, de maneira mais específica, nosso objetivo será identificar a dinâmica do amor medieval, enquanto conhecimento e experiência de Deus, na desconstrução conceitual desse paradoxo da linguagem tomando como ponto de partida a mesma dinâmica conceitual desenvolvida por Platão e Plotino que configura a maneira de falar de Amor, de Deus, e da Alma no sentido bem colocado por Orígenes: eros não é uma instância passível de disfarce ou idealização, eros opera uma transformação do desejo ao reconduzí-lo à sua forma original (ágape).
Nome: Maria Priscilla Coelho (PUC-Rio)
Email: mpvcoelho@gmail.com
Título: Sobre a ousadia de um olhar: o extravio da negação na mística Wittgensteiniana
Resumo:Existe uma ‘mística wittgensteiniana’? A que se refere esse termo? Ele alude a algo que não pode ser dito e sua relação com uma dimensão ética. Algo que está relacionado a outro modo de ver, um modo ousado, pois quer intuir algo a respeito de um ponto de vista externo impossível. Afinal, não há como se colocar fora do espaço lógico (âmbito referente ao conjunto total de possibilidades lógicas), negá-lo. Esta será sempre uma via de extravio. Às vezes, Wittgenstein se refere a este algo como um sentimento (prop. 6.45), outras vezes como uma “experiência” (prop. 5.552) e outras ainda como intuição (prop. 6.45). Há, sem dúvida, uma preocupação mística, a qual não se daria sem nenhum motivo. Investigar quais seriam eles é a tarefa a que me proponho. É um esforço inútil lutar contra os muros da linguagem, mas buscar o sentido da vida e tentar dizer algo sobre isso é uma tendência do ser humano. Os discursos éticos, religiosos e estéticos são o âmbito em que isso é registrado. Wittgenstein quer mostrar que a tentativa de falar sobre esses assuntos será sempre fracassada. Mas ela é motivada por algo que ele, em A Lecture on Ethics, diz não poder deixar de respeitar profundamente e que, por sua vida, não ridicularizaria.
Nome: Maurina Passos Goulart Oliveira da Silva (Unaerp)
Email: mauripassos@uol.com.br
Título: Pedagogia do esvaziamento: o silêncio místico no caminho de uma educação transcendente
Resumo: A modernidade nos deslocou para um lugar onde o ser humano parece ter se perdido diante da ganância do ter. Perdeu-se de sua essência divina. A vida vivida num ritmo frenético afasta a possibilidade de recolhimento para o silêncio interior, aquele que nos possibilita o encontro com o divino, o transcendente. É a sala de aula, enquanto espaço de aproximação com o saber, com o conhecimento, também um lugar sagrado. São muitas as contradições e desafios enfrentados na educação atualmente. Talvez estejamos carentes de reformas não apenas de leis, mas das pessoas, uma reforma no mundo interior. O professor ou a professora tem diante de si, apesar de todos os desafios que encontra no seu fazer pedagógico, a partir de sua própria reforma interior, a possibilidade de despertar as crianças e os jovens para os valores espirituais da vida. Cada vez mais o mundo moderno ou pós-moderno (para alguns) nos indica a necessária retomada da espiritualidade, do encontro com Deus, na busca de uma educação para a transcendência. Neste sentido, portanto, já estamos tratando de uma pedagogia do esvaziamento. Uma educação para a transcendência tem como desafio a retomada do silêncio e da palavra como eixos fundamentais em direção a uma educação do espírito mais que do intelecto. Uma educação para o amor, para a paz, para o encontro com o divino que mora em nós. O mundo apesar de todos os avanços científicos e tecnológicos tem diante de si um ser humano pobre de valores essenciais até para perpetuar a vida no planeta.
Nome: Nastassja Saramago de A. Pugliese (University of Georgia)
E-mail: nsap@uga.edu
Título: Os limites do discurso e a lógica da negação na metafísica de Proclus
Resumo:A filosofia da natureza de Proclus é densa e traz um complexo sistema de hipóstases que reconstrói alguns argumentos Platônicos e, ao mesmo tempo, oferece inovações para os argumentos metafísicos relativo à teoria das Idéias. Para mostrar como a natureza participa das formas, Proclus representa a realidade através de uma estrutura com diferentes dimensões metafísicas. O argumento da participação é acompanhado de três estratégias discursivas distintas, onde para cada dimensão metafísica um tipo de linguagem é mais adequada para sua descrição.
Proclus descreve três tipos da negação, onde cada um é apropriado para descrever um nível metafísico distinto. O tipo de negação mais importante, a hipernegação, pode ser interpretado como uma inovação do filósofo neoplatônico no campo da lógica. A hipernegação tem um papel relevante quando se trata dos limites da linguagem e do conhecimento. Proclus a oferece como figura lógica alternativa quando o princípio do terceiro excluído não é suficiente para descrever objetos pertencentes a níveis metafísicos mais altos. Para esta mesma situação, é comum fazermos uso de figuras do discurso como a metáfora e o silêncio (suspensão da linguagem) e assim dar visibilidade ao invisível, fazer aparecer o que não aparece ou para simplesmente mostrar uma impossibilidade de conhecimento. Proclus, entretanto, com o conceito de hipernegação, sugeriu outro tipo de relação entre a linguagem e a metafísica, uma relação que conjuga aspectos que estão presentes tanto no silêncio (ausência de discurso) quanto na metáfora. Neste trabalho procurarei mostrar o papel da hipernegação para a argumentação metafísica e ilustrarei o uso desta figura lógica mostrando suas relações com o silêncio (suspensão da descrição metafísica) e a metáfora (descrição através de figuras de linguagem).
Nome: Nelson Job (UFRJ)
Email: nelsonjob1@yahoo.com.br
Título: Mística e Ciência
Resumo: As relações entre mística e ciência foram durante um longo tempo, negligenciadas. Estudos como os de Frances Yates (1964), James Connor (2005), Betty Dobbs (1984) etc, vieram mostrar, nas últimas décadas, como os considerados “homens de ciência”, respectivamente, Giordano Bruno, Kepler e Isaac Newton eram também homens místicos, se relacionando intensamente com o hermetismo, e, consequentemente, com a alquimia e a astrologia. O hermetismo tem, segundo Yates, sua base histórica e filosófica no neoplatonismo de Plotino. A alquimia também é relacionada por Jung como sendo tema dos sonhos do físico Wolfgang Pauli (PAULI e JUNG - 2001). A amizade profícua entre eles gerou conversas sobre a relação entre mecânica quântica, taoísmo, os upanixades e psicologia, resultando no conceito de sincronicidade. Os upanixades também eram objeto de atenção de Schrödinger (1977) e o Taoísmo, de Heinseberg e Böhr (2000). Porém, se as citações diretas feitas pelos cientistas sobre místicas abundam, mais curioso é a semelhança entre conselhos místicos e os da Mecânica Quântica, Teoria do Caos, Teorias da Unificação e Cosmologia. A relação do Princípio de Correspondência do Hermetismo com a autossimilaridade dos fractais é mais gritante, sendo já feita pelos atuais estudiosos herméticos (CLANTON -1997). Acrescentaríamos o colapso de onda da mecânica quântica e a união da MQ com os fractais, a hipótese de unificação Triangulação Dinâmica Casual (AMBJORN, JURKIEWICZ, LOLL - 2008). Seguem nossas outras relações dos outros princípios com os conceitos científicos: Mentalismo/vazio quântico (GREENE-2005), Vibração/supercordas, Ritmo/atrator estranho (GLEICK-1989), Polaridade/emaranhamento quântico, Causa e Efeito/partículas e, finalmente, Mentalismo/Universo Eterno ou boucing (Novello-2010).
Nome: Oleg Ernestovich Dushin (Saint-Petersburg State University)
Email: drdushin@yandex.ru
Título: The Problem of Name of God in the Christian Neo-Platonism (Dionysius the Areopagite, Anselm Cantebury and the Russian Imyslavie).
Resumo: It is well-known that the problem of correlation of name and thing was discussed at first time in Plato dialogue “Cratylus”. This problem was adopted in the Christian Neo-Platonism as many topics through authoritative texts of Dionysius the Areopagite. However it should be stressed that it got the new theological meaning because Pseudo-Dionysius told about the Divine Names which have special and unique ontological status. The basis of Anselm Canterbury’s ontological argumentation is the same. The main principle of his logic is that the adequate notion of God is the highest perfection and exactly this Name is able to embrace all possible predicates including the existence. God is a kind of supreme point of human cognition. In turn, the Russian mystical teaching of imyaslavie also attracted the attention to this problem. It was a movement of Russian monks at Mount Athos abbey in Greece but such thinkers as Pavel Florensky, Sergey Bulgakov and Aleksey Losev are also attributed to this tradition. They considered and developed these ideas in philosophical sense. The core of this teaching is that the Name of God has energy of self God. It is determined by presupposition that every being certainly has name and meaning however God doesn’t have adequacy in the world because He is transcendental to all things and hence exactly the Name of God possesses the mystical power. In religiously tradition it proposed special practices of naming of God (in particularity Jesus prayer) which produce corporeal and spiritual transformation and unique unity with God (theosis).
Nome: Patrícia Calvário (Universidade do Porto)
E-mail: patricia.calvario@gmail.com
Título: O Silêncio do Espírito em João Solitário
Resumo: “Quando irei eu deixar a voz, não permanecendo mais nas coisas que a voz proclama? Quando serei eu conduzido ao silêncio, para o que nem a voz nem a palavra podem aflorar?” (João Solitário em L.G. Rignell, Briefe von Johannes dem Einsiedle, p. 118)
A partir do tratado Acerca da Oração, de João Solitário, monge siríaco do século V, onde descreve dois estados na oração, um que recorre à linguagem e que ele designa de “justo” e outro mais interior, silencioso – o dos “espirituais”, pretende-se aqui abordar a questão do silêncio do espírito como via para a união com Deus e também como fruto dessa mesma comunhão.
Nome: Paulo Faitanin (UFF)
Email: pfaitanin@aquinate.net
Título: O problema da individuação em Boécio.
Resumo: Sabemos que em torno do problema da individuação se concentram muitas tensões entre o universal e o particular, já presentes em Platão e na polêmica do próprio Aristóteles com a Academia. Boécio, convencido como os demais neoplatônicos da conciliação de Platão e Aristóteles, proporcionou à Idade Média as bases filosóficas, como trilhos, sobre os quais se desenvolveram diversos debates e inúmeras tentativas de solução, propostas pelos grandes escolásticos.
Nome: Renato Matoso R. G. Brandão (PUC-Rio)
E-mail: renatomatoso@gmail.com
Título: O livro II do Comentário ao Parmênides de Platão de Proclo e sua relevância no estudo da relação entre Zenão e Platão.
Resumo: O Comentário ao Parmênides de Platão escrito por Proclo possui muitas e cuidadosas referências ao tratado de Zenão que conteria seus famosos paradoxos. A validade destas passagens como fonte segura para o estudo dos paradoxos zenonianos tem sido sustentada por alguns autores. No livro II do comentário ao Parmênides, por exemplo, é apresentado um argumento ausente no texto Platônico para sustentar um dos paradoxos de Zenão. A clareza e a maneira como é citado este e outros argumentos levaram J.Dillon a acreditar que possuímos evidencias suficientes para afirmar que Proclo possuía em suas mãos uma versão, ainda que modificada, do tratado original de Zenão.
O mais interessante, contudo, parece ser a relação estabelecida por Proclo entre os argumentos de Zenão e a temática central do diálogo Parmênides. No livro II do Comentário ao Parmênides, a apresentação dos argumentos de Zenão dá ensejo à discussão acerca da relação entre Formas e coisas sensíveis, discussão esta que será desenvolvida até o tema mais caracteristicamente neo-platônico da relação entre os diversos níveis de entidades inteligíveis, culminando na descrição de uma hierarquia de Formas inteligíveis. Sempre se referindo aos paradoxos de Zenão, Proclo irá investigar a relação de oposição e complementaridade entre Formas opostas como Igual e Desigual, além da afirmação platônica de que as Formas são “em si e por si”.
Ora, caso fique estabelecida a verossimilhança do testemunho de Proclo acerca dos argumentos de Zenão, podemos nos perguntar se a relação entre a temática do diálogo Parmênides e os paradoxos zenonianos realizada por Proclo é legitima. Afinal, nada impede que Proclo tenha tido acesso ao tratado de Zenão, mas tenha valido mão de intensa exegese para relacioná-lo tão profundamente a temas platônicos.
Pretendo investigar em minha apresentação a relevância do livro II do Comentário ao Parmênides como fonte de estudo segura para os paradoxos de Zenão. E ainda, se podemos afirmar que os paradoxos tratavam, ainda que em termos não platônicos, dos problemas existentes em se pensar a relação entre entidades sensíveis ou particulares e entidades inteligíveis ou universais.
Nome: Sérgio Eduardo Lima da Silva (UFRN)
Email: sergioelds@gmail.com
Título: Agostinho e o uso de categorias platônicas e neoplatônicas como instrumentos de superação exegética.
Resumo: A interpretação agostiniana ao livro do Gênesis sempre foi analisada tendo como pano de fundo o combate ao maniqueísmo no sec. IV. Este trabalho pretende examinar um aspecto pouco explorado nestas análises, que é justamente o esforço empreendido por Agostinho em construir uma exegese ao Gênesis bíblico capaz de fazer frente à crítica estabelecida pelos maniqueus ao texto sagrado judaico-cristão, utilizando para isto categorias platônicas e, principalmente, neoplatônicas. Este esforço agostiniano pode ser reconhecido no processo de construção dos diversos comentários do autor ao primeiro livro da Bíblia, resultando em abordagens levemente distintas em que os elementos platônicos e neoplatônicos tornam-se paulatinamente presentes como instrumentos de superação à leitura crítica literal exercida pelos maniqueus ao texto bíblico.
Nome: Talyta Carvalho (PUC-SP)
Email: taly.carvalho@gmail.com
Título: Marsílio Ficino: Neoplatonismo e Mística na Renascença
Resumo: Esta comunicação pretende apresentar os principais aspectos do pensamento místico do filósofo neoplatônico Marsílio Ficino (1433-1499). De acordo com Ficino, é possível o encontro entre Homem e Deus, mas tal encontro só pode ocorrer mediante um movimento de ascese da alma. Daí o autor ter elaborado um conceito de alma que lhe dá estatuto, dentro do cosmos, de ligação ontológica e cuja função principal é a de mediação. Apesar de a alma humana possuir uma dupla-inclinação (tanto ao que é mundano, finito, quanto ao que é espiritual, eterno), a sua inclinação para o bem, por assim dizer, lhe atribui um apetite natural (appetitus naturalis) para buscar a união com a divindade. A reflexão sobre a alma e sua relação com Deus encontrará sua expressão mais fiel naquilo que Ficino chamou de “amor recíproco” (caritas mutua). Os seres daqueles que se amam se trocam alternadamente, um se da ao outro. Essa troca reconduz à identidade de cada um com sua fonte através do intermédio do outro. Assim, se duas pessoas amam-se, por exemplo, pessoa “a” e pessoa “b”, o “a” possui a si mesmo apenas em “b” e vice-e-versa, isso porque “a” ama “b” e “a” se encontra em “b” (visto que “b” pensa em “a” e o conserva). Dessa maneira o eu do homem que havia se perdido por sua própria negligência (através do pecado, em outras palavras) é reencontrado no outro que é o objeto de seu amor. Essa “troca de amor admirável” (mirum commertiun), como Ficino a chama, é o princípio sobre o qual se baseará sua teoria mística de ascese da alma a Deus pelo amor. Para apresentar esse ponto de sua filosofia, nós valeremos de suas obras Teologia Platônica e De amore e assim como das influências que o autor recebeu de pensadores como Platão e Plotino.
Nome: Terezinha da Cunha Vargas (UERJ)
Email: tdacunhav@yahoo.com.br
Título: O Um de Parmênides de Eléia
Resumo: O Um de Plotino está via de regra associado ao Um descrito no “Parmênides” de Platão.Apesar dessa última obra descrever um suposto diálogo entre o jovem Sócrates e um já idoso Parmênides, acompanhado de um maduro Zenão, é certamente discutível a realidade desse encontro, do ponto de vista histórico. Ademais, me parece que igualmente em termos do conteúdo da discussão, e mais precisamente no que diz respeito às palavras colocadas na boca do mestre eleata, o diálogo é bastante improvável. Ao contrário do Parmênides do “Sofista”,acredito que Platão dificilmente sentiria ímpetos de assassinar a figura paterna descrita no diálogo “Parmênides”. E isso porque o Parmênides do “Sofista” estaria muito mais próximo do real, na medida em que favoreceria o pensamento da escola sofista, enquanto que o Parmênides do diálogo homônimo estaria muito mais próximo dos ideais platônicos.
Quer me parecer que essas considerações são relevantes em um estudo do Um de Plotino.Se o que aqui aponto estiver correto, então, o Um neoplatônico estará deveras distante do Um de Parmênides de Eléia. Assim, me empenhei em elencar as características do Um parmenídico propriamente dito, buscando evidenciar o quanto era diverso, a meu ver, do descrito por Parmênides do diálogo homônimo de Platão.
Quero ressaltar ainda que, em termos de linguagem , o esforço do sábio eleata é primoroso na medida em que procura criar vocabulário e formas de expressão diferenciados para dar conta de sua idéia de Um, na parte central de seu poema.Se há figuras que remetem à Homero, isso se dá em outras partes da sua obra, mormente em seu proêmio. Essa linguagem usada na conceituação do Um por Parmênides me parece bem diversa da empregada na mística.Esses pontos também me parecem dignos de discussão e pretendo igualmente abordá-los.
Nome: Valdemar Habitzreuter (UFSC)
Email: vhreuter@uol.com.br
Título: Mística em Bergson
Resumo: O filósofo Henri Bergson, em Duas Fontes da Moral e da Religião aborda a Mística filosoficamente. Estabelece a intuição como experiência que certas almas privilegiadas têm da união com Deus. Esta experiência nos elucida sobre a existência e natureza de Deus. Um objeto existente é um objeto que é percebido ou que pode ser percebido, e é, portanto, dado numa experiência real ou possível. Bergson está consciente da dificuldade de provar que possa se dar tal experiência para uma experiência de Deus. Mas ele sugere que a reflexão sobre o misticismo pode servir como confirmação de uma posição já alcançada, ou seja, o misticismo é essa experiência. Seu argumento é: se a verdade da evolução criadora foi estabelecida, e se podemos visualizar a possibilidade de uma experiência intuitiva do princípio de toda vida, a reflexão sobre os dados do misticismo pode provavelmente ajudar na tese de que há uma atividade criadora transcendente. Para Bergson, o misticismo, lança uma luz para a compreensão da natureza divina. “Deus é amor, e ele é objeto de amor”: isto é toda contribuição do misticismo. Essas dificuldades lógicas da existência de Deus, Bergson não as procura resolver numa postura como a de outros filósofos profissionais. Sua posição é que, enquanto a reflexão sobre a evolução pode nos trazer a convicção de que há uma imanente energia criativa (élan vital) que opera no mundo, a reflexão sobre o misticismo dá mais luz sobre a natureza desse princípio de vida, revelando-o como amor. E, numa carta endereçada ao seu discípulo Le Roy, diz: “A existência de Deus é dada numa intuição. A inteligência propriamente dita, a inteligência pura, iria parar no ateísmo. ... porque imagino a inteligência como uma faculdade voltada essencialmente para a matéria, articulada como a matéria” .
Verônica Cibele do Nascimento (UFRN)
Email: veronicacibelefilo@hotmail.com
Título: Linguagem na Carta Sobre o Humanismo
Resumo: O presente trabalho é a tentativa de apresentar a compreensão de linguagem na obra Carta sobre o Humanismo (1946) do pensador alemão Martin Heidegger (1889/1976). Nessa obra que tem como objetivo esclarecer uma pergunta de Jean Beaufret, qual seja: Como tornar a dar sentida a palavra Humanismo? temos a recondução da interpretação humanística homem até a raiz da Metafísica. Com isso estamos diante de um abandono do homem dentro do seio da subjetividade para ir de encontro a um outro tipo de pensar que dignifica tanto o ser quanto o homem. É nesse contexto que a essência da linguagem pode ser apreendida.
Nome: Walter Gomide (PUC-RIO)
Email: waltergomide@yahoo.com
Título: Sobre o caráter não pronunciável dos nomes: o contínuo em oposição ao enumerável.
Resumo: A linguagem humana, finita por natureza, se utiliza de conceitos e de certa quantidade de nomes, em sua atribuição lógica de “apontar univocamente”, para poder se apropriar do mundo, pressupostamente infinito em suas possibilidades de nomeação. A linguagem lógico-conceitual, mesmo que útil para fins de previsão e de ordenação dos fenômenos, não capta a singularidade essencial dos objetos; com a intenção de classificar e ordenar, o conceito e o nome lógicos acabam não considerando as potencialidades do que é único e singular: o objeto como tal, indicado pelo “nome”. Consoante a filosofia da linguagem desenvolvida por Walter Benjamim, o nome, como expressão da idéia, é o fundamento sobre o qual se edifica a linguagem originária, aquela que Deus profere incessantemente para sustentar e criar o mundo. Mas como pode a linguagem humana se aproximar desta linguagem divina? Segundo Gerschom Scholem, a capacidade nomeadora de Deus só pode ser recuperada pelo homem através da dimensão simbólica da linguagem, na qual o nome, ao contrário do que pede a sua função lógica de nomear de forma unívoca, aponta para o mundo de forma equívoca, “pluridirecional. Soma-se a isto o fato de que, conforme a teoria de Georg Cantor sobre os conjuntos ditos “transfinito”, à linguagem lógica só é permitida a nomeação do que é enumerável ou contável, lhe escapando essencialmente o que é contínuo, não contável. Tal teorema da teoria cantoriana dos conjuntos só reforça a tese de que a linguagem humana, se reduzida aos mecanismos lógicos de nomeação, deixa escapar uma quantidade absurda de objetos que só pode ser atingida pelo uso do nome como “símbolo”.